26. (Português).
Francisco Machado, um escultor português em Badajoz (Espanha). Seu último trabalho: um retábulo para a Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Morenos.
No próximo ano 2019 serão 360 anos de seu nascimento e 305 de sua morte. Seria hora de dedicar um merecido homenagem, tanto em Portugal como na Espanha.
© Pedro Castellanos
21 de octubre de 2018
Introdução.
Foi um dos mais importantes entalhadores do barroco português. Neste artigo, vou publicar dados biográficos inéditos, como o lugar e data exata de nascimento, o nome de seus pais, local e data de seu casamento, seu testamento, o nome de seu discípulo, data e local de sua morte e sepultamento. Importante ressaltar que foi um entalhador com grande deslocamento geográfico, porque ele trabalhou em várias cidades portuguesas como Évora, Montemor-o-Novo, Vila Viçosa, ou talvez em Campo Maior, até terminar seus últimos anos em Espanha, particularmente em Badajoz. Esta cidade foi um importante centro artístico no século XVIII e capital, naquela época, da província espanhola de Extremadura. Badajoz é a sede do arcebispado, e além da catedral, cujas obras tendem a durar séculos, tinha muitos conventos e ermidas extremoduros. Devido as sucessivas guerras tanto na capital como em cidades vizinhas foram obrigados a renovar seus templos frequentemente.
Foi um dos mais importantes entalhadores do barroco português. Neste artigo, vou publicar dados biográficos inéditos, como o lugar e data exata de nascimento, o nome de seus pais, local e data de seu casamento, seu testamento, o nome de seu discípulo, data e local de sua morte e sepultamento. Importante ressaltar que foi um entalhador com grande deslocamento geográfico, porque ele trabalhou em várias cidades portuguesas como Évora, Montemor-o-Novo, Vila Viçosa, ou talvez em Campo Maior, até terminar seus últimos anos em Espanha, particularmente em Badajoz. Esta cidade foi um importante centro artístico no século XVIII e capital, naquela época, da província espanhola de Extremadura. Badajoz é a sede do arcebispado, e além da catedral, cujas obras tendem a durar séculos, tinha muitos conventos e ermidas extremoduros. Devido as sucessivas guerras tanto na capital como em cidades vizinhas foram obrigados a renovar seus templos frequentemente.
Biografia.
Francisco Machado nasceu na freguesia de Santo Antão do Tojal (também chamada Santo Antonio do Tojal), pertencente ao concelho de Loures, na área metropolitana de Lisboa, localizado ao norte da cidade. Ele não nasceu em Lisboa capital como menciona o escultor em alguns documentos, talvez para dár-se mais importância. Ele foi batizado em 19 de janeiro de 1659 na Igreja Paroquial de Santo Antão do Tojal. Era filho de Bartolomeu Machado e Maria Duarte, moradores da Rua do Emxairo de Santo Antão do Tojal:
Francisco Machado nasceu na freguesia de Santo Antão do Tojal (também chamada Santo Antonio do Tojal), pertencente ao concelho de Loures, na área metropolitana de Lisboa, localizado ao norte da cidade. Ele não nasceu em Lisboa capital como menciona o escultor em alguns documentos, talvez para dár-se mais importância. Ele foi batizado em 19 de janeiro de 1659 na Igreja Paroquial de Santo Antão do Tojal. Era filho de Bartolomeu Machado e Maria Duarte, moradores da Rua do Emxairo de Santo Antão do Tojal:
Aos
dezanueve de janeiro de [mil] seisentos e sincoenta e nove, baptizei a
Francisco, filho de Bertholameu Machado e de sua mulher, Maria Duarte,
moradores na Rua do Emxairo. Forão padrinhos Francisco Desa e sua filha Maria.
Seus
cunhados eram vizinhos de Bucelas, uma freguesia no concelho de Loures. Os pais
de Francisco Machado se havían casado na Igreja do Santo Antão do Tojal no dia
4 de março de 1647:
Aos
quatro de março de [mil] seissentos e quarenta e sete, recebi a porta da igreja
por marido e molher, conforme o Sagrado Concílio Tridentino, á Bertholameu
Machado, filho de António Correa e de Isabel Machada, sua molher, ja defuntos,
moradores que forão no lugar dos Valles (1), termo de Villa Real, Bispado do Porto, com Maria
Duarte, filha de Francisco Fernandez, ja defunto, e de Inês Fernandez, sua
molher, moradores que forão em Bucellas. Forão testemunhas o padre Domingos da
Silva, Henrrique da Silva, João Soares, sapateiro, Lourenço Machado, Manoel
Lopes, thezoureiro, e outras muitas pessoas que se acharão presentes.
Francisco Machado se casou aos trinta anos de idade no dia 12
de dezembro de 1681 na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação da localidade portuguesa de Campo Maior, fronteira com
Badajoz, com Beatriz dos Anjos. Ela era filha de António Gonçalves y Maria Vaz:
Aos doce dias do mes de dezembro de mil e seisentos e
oitenta e un annos, por mandado do illustrissimo senhor don Alexandre da Silva,
Bispo de Elvas, ouvindo o mutuo consenso dos contrayentes na forma do Sagrado
Concílio Tridentino, ritual romano, a dispozição de nossas constituições,
assistei em matrimonio [a] Francisco Machado, filho de Bertholameu Machado e de
Maria Duarte, natural do lugar de S. António do Tojal, freguesia de Santa Anna,
Arcebispado de Lisboa, com Beatris dos Anjos, filha de António Gonçalves, o
Fado, e de Maria Vaas, natural desta villa de Campo Maior. Forão os padrinhos
Diego (?) de Frausto e Graviel Pinto e Violante Borges. E para lembrança fiz
este termo que asinei ut supra.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação, Campo Maior.
Francisco Machado concedeu testamento em Badajoz dia 9 de março de 1714. Ele pedía para ser vestido com hábito de São Francisco e sepultado na Igreja de Santa María del Castillo, antiga Catedral de Badajoz. Era irmão das confrarias de Badajoz de São Lourenço, São José e Santa Cruz. Declarava estar casado com a mencionada Beatriz dos Anjos, “que hoje mora no Reino de Portugal, na vila de Campo Maior, com quem não tenho vida maridável faz trinta anos”. Nos da a entender que no tinha relação conjugal com sua mulher há quase quatro anos depois de se casarem e menciona que não tiveram filhos. Ele enviou a sua afilhada Agustina Alfonsa, a esposa de Juan Gutiérrez, seis pesos de escudos de prata, “pelo grande amor que tenho por ele e porque ele me confia a Deus”. Também pedía “que se entregue a Juan Lorenço, meu aprendiz, que tenho na minha casa há tres anos ensinando meu ofício de escultor, todas as ferramentas e bancos que pertencem a referido ofício de escultor que eu tenho, pelo muito amor que eu tenho e porque me confia a Deus. Quais [ferramentas] não serão entregues até que seja oficial, porque não as desperdiça e não jogue por aí. O que será recolhido pelos meus executores e estará em sua posse até que você tenha idade suficiente para poder entregá-las e ser oficial. E eles não serão entregues a seu pai ou a qualquer outra pessoa”. Ao seu aprendiz, Juan Lorenzo, ele deve ter amado como o filho que não teve. Não tenho mais notícias deste discípulo nem de seus sobrenomes. Deixava como herdeira a viúva María Domínguez, “sua comadre”, porque ele não tinha “herdeiro forçado”, isto é, ele não tinha filhos. María Domínguez deve ter sido sua companheira naquela época. Francisco Machado falece em Badajoz no dia 15 de março de 1714, seis dias depois de fazer o testamento, aos 55 anos de idade. Foram seus executores Santiago, o alfarero, e sua comadre, quem foi sua herdeira. Foi enterrado como pedía na Igreja de Santa María del Castillo, da que hoje resta a torre e alguns restos:
Francisco Machado. [Rua] Concepção Alta.
Na cidade de Badajoz, dia quinze do mês de março de mil setecentos e catorze anos,
morreu Francisco Machado, casado com Beatris dos Anjos, na vila de Campo Maior.
Ele recebeu os sacramentos sagrados. Deixou setenta e cinco missas por sua
alma. Foram executores Santiago, o alfarero, e sua comadre. E, como herdeira, a
referida sua comadre. Ele se enterrou na Paróquia de Santa María no Castelo. Eu
fiz no seu enterro o que é da minha obrigação.
Ele não deveria ter uma casa própria, porque ele não comentou
sobre isso. No entanto, é mencionado que ele morreu na então Rua de la
Concepción Alta, hoje San Lorenzo. Deve-se notar que seu amigo Pablo Rodríguez
Morgado viveu e morreu na mesma rua, eu acho que é por isso
que eles eram amigos e trabalhavam em várias ocasiões. Pablo viveu a partir do
final do século XVII em uma casa que ainda existe, que fazia fronteira com a
primitiva Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, hoje numero 38. Embora na
referência cadastral remonta-se a 1900, talvez indicativa. Esta casa pertenceu
então ao Hospital da Conceição. Pablo possuiu a casa por meio de um
recenseamento que fez dela o mordomo do hospital, o presbítero Bartolomé
Guerrero Malos Sabores em 1692: “com as
pensões perpétuas de oito ducados pela imagem de Nossa Senhora da Conceição da paróquia, cuja casa, no cerco que esta
cidade sofreu no ano de 1705 lançaram bombas e a puseram em ruínas”. Para
morar na casa, ele gastou 585 reais do seu propio cuadal para reconstruí-la.
Outro fato curioso é que o pai de Pablo era português, o que facilitaria a
compreensão mútua nos dois idiomas. Poucos anos antes de sua morte, Pablo
estava morando nessa paróquia, mas ele havia se mudado para curar sua doença
para a de Santo André, agora desapareceu. Depois de sua morte, ele foi
sepultado na igreja do Convento da Mãe de Deus de Valverde (paróquia atual de Santo André) no capela da Confraria de Jesus da Humildade
(Oração no Jardim do Getsêmani), agora na Igreja da Conceição da Rua de San
Juan. O escultor de Badajoz Cristóbal Jiménez Morgado deve ter sido relação
familiarizado com ele e apareceu com seu irmão Lorenzo Jiménez Morgado como
testemunha a carta de dote de Pablo para sua futura esposa.
Retábulo de Nossa Senhora do Anjo da
Catedral de Nossa Senhora da Assunção de Évora, Portugal. Francisco Machado,
1699-1700.
A escultura da Virgem é também chamada de Nossa Senhora da O e
Expectativa.
A presença de
Francisco Machado em Badajoz está documentada desde 1699. Em 28 de janeiro
deste ano concedeu o poder ao procurador Sebastián Pavón Caballero junto ao
carpinteiro entalhador de Badajoz Tomás Suárez de Villegas. Também conhecido
como Tomás Suárez de Salazar, foi discípulo do carpinteiro, entalhador e mestre
de obras de Badajoz Antonio Morgado, parente distante de Pablo Rodríguez
Morgado. Sebastián Pavón tería que defendê-los de uma ação judicial colocada
por Pedro Matos, um residente da localidade de La Roca, hoje chamado La Roca de
la Sierra, anteriormente chamada Manzanete, para que lhe devolvessem cerca de
3.000 reais que tinham recebido. Foi pela encomenda de um retábulo que
Francisco e Tomás teríam que fazer na igreja paroquial desta localidade e que
eles não teríam cumprido. Provavelmente porque Francisco Machado ainda não
tinha terminado o retábulo de Nossa Senhora do Anjo da Catedral de Évora,
contratado em 24 de dezembro de 1699, trinta e seis dias antes. A atividade de
Machado como entalhador em Portugal começou em 1684, quando foi contratado para
um retábulo pela Irmandade de São Francisco Xavier do Colégio dos Jesuítas do
Espírito Santo de Évora; termina em 1703, com o retábulo de Nossa Senhora da
Boa Morte deste mesmo colégio (2).
Desconhece-se quem foi o professor que lhe ensinou o ofício de um escultor.
Este Francisco Machado não pôde fazer em 1720 o retábulo-mor da Igreja Matriz
de Azurara, freguesia do município de Vila do Conde (distrito do Porto), porque
já havia morrido. Nem deve este Francisco Machado ser o autor do retábulo-mor
da Catedral de Viseu, que data entre 1729 e 1733. De qualquer forma, deve ter
sido outro artista do mesmo nome.
Restos da Igreja de Santo Domingo ou do
Rosário de Badajoz.
Imagem de Nossa Senhora do Rosário dos
Morenos, século XVII.
Me
chama a atenção o fato de Francisco ter feito o retábulo para a Confraría dos
Morenos de Badajoz, quando havia renomados escultores e entalhadores locais e
que naquela época já faziam retábulos e outras obras importantes. Refiro-me a
Cristóbal Jiménez Morgado, seu amigo Miguel Sánchez Taramas, e cunhado do
último e
seu discípulo, Francisco Ruiz Amador. Também ao famoso entalhador e mestre
arquiteto vizinho de Zafra (Badajoz) Alonso Rodríguez Lucas, ou seu companheiro
Juan Martínez de Vargas, ambos de idade avançada. Alonso trabalhou na Catedral
de Badajoz entre 1697 e 1698 nos retábulos de Nossa Senhora de Antigua e São
Brás. Juan Martínez de Vargas morreu em Zafra em 8 de outubro de 1704 (antes de assinar o contrato do retábulo de Badajoz) e Alonso
Rodríguez Lucas em 28 de outubro de 1710, também em Zafra. Talvez Francisco
Machado, como um bom artista, tenha influências dos retábulos espanhóis das
numerosas igrejas e conventos de Badajoz e da área de Zafra. Suponho que, além
de ser bom entalhador, Machado fez um bom negócio e traria um diferente barroco
a Badajoz que tinha naquela época. Sabe-se que, apesar das guerras, a fronteira
entre Espanha e Portugal não foi obstáculo para os artistas de ambos os países.
Embora ele é citado no contrato e em seu testamento como um mestre escultor,
ele era realmente entalhador, como aparece nos contratos em Portugal. O
entalhador é um artista que executa as peças do retábulos e o escultor as
esculturas isentas destes, embora muitos escultores também foram entalhadores.
Esta diferença é vista nas figuras que contemplam o retábulo de Évora, onde há
uma certa estranheza na execução das figuras policromadas dos anjos e Deus Pai
do sótão. Também é possível que Francisco Machado trabalhou na vizinhança
Olivença, como alguns retábulos da Igreja da Magdalena recordam seu estilo,
semelhante ao de São Alberto da Igreja de Carmo de Évora.
A
data exata da fundação deste confraría de Badajoz é desconhecida, embora deve
ter sido entre 1526 e 1548. Era conhecida também como os “morenos”, por estar
formada por escravos negros e mulatos. Tinha sua sede na chamada, no ínicio,
Igreja de Santo Domingo (do Silos), mais tarde chamada do Rosário, dentro da
fortaleza árabe. Não deve ser confundida com a confraría homônima da Igreja de
Santo Domingo (de Guzmán) e da que ainda de conserva sua imagem primitiva na
capela ao lado do evangelio. Nos dois nichos laterais que aparecem dentro do
templo estavam as imagens desaparecidas de São Domingos de Silos e Santa
Catarina de Siena. Na parte de trás de
seu igreja, documentei de maneira inédita a existência do Hospital dos
Cavaleiros ou da Consolação (3). Este retábulo, de pequenas dimensões,
foi para a “Nossa Senhora do Rosário do Castelo”, que o escultor Português
faria junto ao carpinteiro de Extremadura Pablo [Rodríguez] Morgado entre 1705
e 1706. Foi seu
último trabalho documentado, pelo menos na Espanha:
Obrigação de fábrica de um retábulo para Nossa Senhora do Rosário.
Na cidade de Badajoz, aos dez dias de agosto de 1705 anos, diante de mim, o notário, compareceu de uma parte Francisco Rodríguez de Guzmán, um residente desta cidade, mordomo branco da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, localizada na capela no Castelo, e Juan Rodríguez Frausto, mordomo moreno da mesma confraria. E, por outro lado, Francisco Machado, mestre escultor, e Pablos [sic] Morgado, mestre carpinteiro, todos moradores desta cidade. Eles disseram que, desejaram muito que esta ermida esteja com a maior veneração possível para o aumento do culto divino e da imagem de Nossa Senhora do Rosário, cuja invocação está dedicada, procurando que seja feito um retábulo onde está colocada referida imagem. E apra poder efetuá-lo, referidos mordomos pediram permissão para ilustríssimo bispo desta cidade e bispado, quem concedeu-lhes (...) que fabricassem um retábulo de madeira para referida capela, onde está a imagem de Nossa Senhora do Rosário, que pegue toda a parede em frente de cima a baixo e a fachada de um lado para outro, e que esteja acompanhada, feito e fabricado ao salomónico, tal como utilizado e manufacturados outros nestes tempos, providenciando tudo para a planta que foi feita, cuja qual está assinada na parte inferior do mesmo. E referido retábulo deve ser feito de acordo com a arte e arquitetura, que deve ser feito e acabado em seis meses, que devem começar a partir de hoje, dia da data, e cumprirá o dia onze de fevereiro 1706. Pela qual e por seu trabalho, madeira e o que seja necessário, se lhe devem dar e pagar por referida confraría aos mordomos 2.050 reais em moedas de vellón, cujo preço está definido em três parcelas de 683 reais cada uma. E, por último, um real mais que ajuste esse valor desta maneira, 683 reais em espécie, para dar início à referida fábrica, cujo montante confessam ter recebido. 683 reais sendo feita metade do referido retábulo. E os restantes 684 reais, no dia que esteja terminado e colocado dentro da Ermida, com a condição que não deve fazer parte dos concedentes para ajustá-lo e colocá-lo na referida capela, senão em referida confraría, que terá que pagar aos pedreiros e materiais. E se lhes exigem que, em tal formulário referido retábulo toda a satisfação. E se assim não o fizerem, poderão ser executados e pressionados por isso e encontrar a outro profissional que à custa dos concendentes o façan e aperfeiçoen...
Na cidade de Badajoz, aos dez dias de agosto de 1705 anos, diante de mim, o notário, compareceu de uma parte Francisco Rodríguez de Guzmán, um residente desta cidade, mordomo branco da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, localizada na capela no Castelo, e Juan Rodríguez Frausto, mordomo moreno da mesma confraria. E, por outro lado, Francisco Machado, mestre escultor, e Pablos [sic] Morgado, mestre carpinteiro, todos moradores desta cidade. Eles disseram que, desejaram muito que esta ermida esteja com a maior veneração possível para o aumento do culto divino e da imagem de Nossa Senhora do Rosário, cuja invocação está dedicada, procurando que seja feito um retábulo onde está colocada referida imagem. E apra poder efetuá-lo, referidos mordomos pediram permissão para ilustríssimo bispo desta cidade e bispado, quem concedeu-lhes (...) que fabricassem um retábulo de madeira para referida capela, onde está a imagem de Nossa Senhora do Rosário, que pegue toda a parede em frente de cima a baixo e a fachada de um lado para outro, e que esteja acompanhada, feito e fabricado ao salomónico, tal como utilizado e manufacturados outros nestes tempos, providenciando tudo para a planta que foi feita, cuja qual está assinada na parte inferior do mesmo. E referido retábulo deve ser feito de acordo com a arte e arquitetura, que deve ser feito e acabado em seis meses, que devem começar a partir de hoje, dia da data, e cumprirá o dia onze de fevereiro 1706. Pela qual e por seu trabalho, madeira e o que seja necessário, se lhe devem dar e pagar por referida confraría aos mordomos 2.050 reais em moedas de vellón, cujo preço está definido em três parcelas de 683 reais cada uma. E, por último, um real mais que ajuste esse valor desta maneira, 683 reais em espécie, para dar início à referida fábrica, cujo montante confessam ter recebido. 683 reais sendo feita metade do referido retábulo. E os restantes 684 reais, no dia que esteja terminado e colocado dentro da Ermida, com a condição que não deve fazer parte dos concedentes para ajustá-lo e colocá-lo na referida capela, senão em referida confraría, que terá que pagar aos pedreiros e materiais. E se lhes exigem que, em tal formulário referido retábulo toda a satisfação. E se assim não o fizerem, poderão ser executados e pressionados por isso e encontrar a outro profissional que à custa dos concendentes o façan e aperfeiçoen...
Assinaturas de Francisco Machado e Pablo Rodríguez Morgado no contrato do retábulo de Badajoz.
Obviamente,
o artista era Francisco Machado, quem faría o esboço e a escultura fina, com
exceção do ouro, que seria fornecido por mestres douradores da cidade. Pablo
exercía apenas como um montador e assistente, como faria naquele momento o já
morreu em 1710 Tomás Suárez, ou seja, montar as peças do retábulo e ancorá-los
na parede. Neste caso, é especificado que não seriam eles os que montassen na
parede, mas sim os pedreiros pagos pela confraría. Boa amizade deviam ter
Francisco Machado e Pablo Morgado, pois, também aparecem em Badajoz como
testemunhas do poder para testar de Isabel de Alva Maraver, viúva do tenente de
cavalos Juan de Guzmán, concedido em 1711. Neste caso, aparecem
como “mestres carpinteiros”. Este retábulo da ermida do Rosário infelizmente já
não se conserva, porque a ermida foi quase destruída na Guerra da Independência
Espanhola em 1811, embora possa ter desaparecido em algum dos confiscos
(1798-1856). Hoje existe um retábulo feito de tijolo, usado com argamassa de
cal, com um nicho, ladeado por duas colunas lisas e está coberto com um
frontão. Ainda podem ser vistas pinturas imitando mármores em tons de vermelho
e cinza bem a cúpula em forma de concha. Esse retábulo cobre uma janela
gótica, bastante danificada, que ainda se pode ver na parte traseira. É
surpreendente que no contrato do retábulo se mencionen a dois mordomos que teve
a confraria: Francisco Rodríguez de Guzmán, mordomo “branco” e Juan Rodríguez
Frausto, mordomo “moreno”. Cada um deles seria responsável por cuidar dos
irmãos de ambos grupos étnicos. Neste caso, pode ser devido à diminuição do
número de escravos negros e mulatos em Badajoz no século XVIII, mais numerosos
nos séculos anteriores. Devido a isso, e para não desaparecer, a confraria
deixaria de ter irmãos exclusivamente “morenos”, e que alguns deles já seriam
escravos livres. Também deve-se notar que o carpinteiro Pablo Rodríguez Morgado
foi mordomo da Confraria de Vera Cruz naqueles época, hoje felizmente refundada
depois de desaparecer várias vezes, e que tinha sua sede na igreja do Convento
de Nossa Senhora da Encarnação o Mãe de Deus de Valverde, hoje Paróquia do
Apóstolo São André (onde ele foi enterrado). Ele
também foi mordomo da Confraria de São José, patrono dos carpinteiros, em 1723.
Composição de como a imagem da Virgem do Rosário seria no retábulo atual.
Torre da Igreja do Santa María del
Castillo onde foi enterrado o escultor, do século XV.
Local onde ficava a casa do carpinteiro Pablo Rodríguez Morgado. Foto: Juanjo Benítez.
Notas:
(1) Pode referir-se a Vale de Nogueiras, freguesia del concelho
de Vila Real.
(2) VALLECILLO TEODORO, Miguel Ángel. Retablística Alto-Alentejana (Elvas, Villaviciosa y Olivenza) en los
siglos XVII-XVIII. Universidade Nacional de Educação à Distância, Mérida.
1996. Páginas 151 e 152.(3) https://fragmentosdebadajoz.blogspot.com/2018_06_01_archive.html
Bibliografía:
VALLECILLO
TEODORO, Miguel Ángel. “Retablística Alto-Alentejana (Elvas,
Villaviciosa y Olivenza) en los siglos XVII-XVIII”. Universidade
Nacional de Educação à Distância, Mérida. 1996.
MANGUCCI,
Celso. “Francisco Machado e a oficina de retábulos do Arcebispo de Évora”. Cenáculo.
Boletim on-line do Museu de Évora. Dezembro de 2007.
LAMEIRA,
Francisco. Professor Doutor da Universidade do Algarve. Atas do Ciclo de
Conferências “Convento de Nossa Senhora dos Remédios e a
Ordem do Carmo em Portugal e no Brasil”. Associado à Exposição “Convento
de Nossa Senhora dos Remédios”. Évora, 22-24 de maio de 2013.
Colaboradora na tradução de textos em português: Priscila de Sousa Kantowits (traductora e intérprete). Colaborador na transcrição de antigos documentos sacramentais: Miguel Rodrigues
Lourenço, investigador
do Centro de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica Portuguesa. Obrigado por sua colaboração.
ANEXO
Testamento de Francisco Machado. Em nome de Deus, Nosso Senhor, todo-poderoso,
amém. É notório para esta escritura de testamento, minha última vontade, vieren
como eu, Francisco Machado, residente desta cidade de Badajoz, doente na cama e
no meu juízo e natural entendimento, que Deus, Nosso Senhor, serviu para me
dar, acreditando como firmemente e verdadeiramente acredito e confesso no
mistério da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas e um
Deus verdadeiro e tudo o mais que ele acredita e confessa a Nossa Santa Madre
Igreja Católica Apostólica Romana, cuja fé e crença vivi e eu testemunho viver
e morrer como um católico e cristão fiel, tendo, como eu levo, meu advogada e
defensora a Rainha Serenissima dos Anjos, Maria, Nossa Senhora, que interceda
junto do seu precioso Filho, meu Senhor Jesus Cristo, perdoa os meus pecados e
colocar minha alma no caminho de salvação, o medo me morte, que é natural e
verdadeira a toda criatura humana e para a maior honra e glória de Deus, Nosso
Senhor; Eu faço e ordeno este testamento e a última vontade da seguinte
maneira:
Antes de tudo, encomendo minha alma a Deus, Nosso Senhor, que a criou e redimiu com seu precioso sangue, morte e paixão, e o corpo à terra, do qual foi formado. E se a Sua Divina Majestade seria servido tirar a vida presente, eu envio o meu corpo ser enterrado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Santa María del Castillo desta cidade, em uma sepultura que é procurada por meus executores. E vai vestido com hábito de nosso pai São Francisco, que deve me dar a Irmandade de São Lourenço, de quem eu sou irmão. E o padre e a cruz da minha paróquia assistirão ao meu funeral. E no seu dia, se for agora, se não no próximo, me será contada uma missa com meu corpo presente para o dito sacerdote. E seis sírios acenderão a santa cruz e oito capelães a acompanham do coro da Santa Igreja Catedral desta cidade, que deve me dar a Irmandade da Santa Cruz, de quem, da mesma forma, eu sou irmão. E, portanto, as esmolas que são habituais são dadas. Eu comparecer ao enterro disse a comunidade de religiosos de São Francisco, descalços, fora desta cidade [Convento de São Gabriel], que devo dar a referida Irmandade de São Lourenço. E eu também sou o irmão da Irmandade de São José, peço e solicitar os administradores das referidas três irmandades de São Lourenço, Santa Cruz e Senhor São José, faça de mim o que acostumados com os outros irmãos mortos. Eu envio para a cera do Santíssimo Sacramento um real de esmola e para as ermidas costumeiras desta cidade, a Santa Casa de Jerusalém e a redenção de cativos a esmola que é costume. Ordeno cem missas rezadas para serem ditas por minha alma, mais outras cinquenta, metade por penitências mal cumpridas e metade por objeções conscienciosas. E outras vinte e cinco missas para as benditas almas do Purgatório, todas rezadas. E para eles as esmolas personalizadas são dadas. E removido de toda a terceira parte que toca a colecturia, os outros são ditos pelos sacerdotes que meus executores ver, o mais rapidamente possível. Deixo a Agustina Alfonsa, minha afilhada, esposa de Juan Gutiérrez, seis pesos escudos de prata, pelo grande amor que eu tenho e porque me confia a Deus. Ordeno a Juan Lorenzo, meu aprendiz, que tenho na minha casa há tres anos ensinando meu ofício de escultor, todas as ferramentas e bancos que pertencem a referido ofício de escultor que eu tenho, pelo muito amor que eu tenho e porque me confia a Deus. Quais [ferramentas] não serão entregues até que seja oficial, porque não as desperdiça e não jogue por aí. O que será recolhido pelos meus executores e estará em sua posse até que você tenha idade suficiente para poder entregá-las e ser oficial. E eles não serão entregues a seu pai ou a qualquer outra pessoa. Declaro sou casado, a fim de nossa Santa Madre Igreja, com Beatriz dos Anjos, que hoje mora no Reino de Portugal, na vila de Campo Maior, com quem não tenho vida maridável faz trinta anos. E desse casamento não temos filhos. E assim eu o declaro para que em todos os momentos isso seja registrado. Não me lembro de nenhum dever. E algumas pessoas me devem algumas pequenas quantias que meus executores sabem; ordeno são cobrados. E se com a verdade parece que eu devo alguma coisa, eu ordeno que seja paga. E para atender e pagar este a minho testamento, e que contém, sair e chamado pelos meus executores testamentários a Francisco Santiago e María Domínguez, minha comadre, viúva, moradores desta cidade, cada um em si, in solidum, a os quales dou poder cumprido para que depois de minha morte leve minha propriedade e vendê-los em leilão. E eles cumprem e pagam a minho testamento e o que nela está contido. E cumprido e pago, do remanescente e que permanecerá de todos os meus bens, direitos e ações que me tocam e pertencem de qualquer forma, deixo e nomeio pelo meu herdeira universal a María Domínguez, minha comadre, para que todos possam ser e herdar com as bênçãos de Deus e as minhas, atento não tenho herdeiro. E para isto meu testamento, que eu faço agora e concedo, revogo e anulo e dou para nenhum valor ou efeito qualquer outro testamento, você envia ou codicilos que antes disto eu tenho datado, por escrito e em uma palavra, que nenhum eu quero valer, exceto este que eu faço atualmente e concedo, que eu só quero ser válido para o meu testamento e última vontade, assim e da forma que melhor por direito, lugar em testemunho do qual, eu concedi e assinei perante o presente notário público e testemunha que do meu conhecimento dá fé. E estando nas casas da minha morada, na cidade de Badajoz, a nove dias de março de mil e setecentos e catorze anos, testemunhas Francisco Javier de Morales Morgado, José Rafael e Francisco Ribero, vizinhos desta cidade.
Antes de tudo, encomendo minha alma a Deus, Nosso Senhor, que a criou e redimiu com seu precioso sangue, morte e paixão, e o corpo à terra, do qual foi formado. E se a Sua Divina Majestade seria servido tirar a vida presente, eu envio o meu corpo ser enterrado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Santa María del Castillo desta cidade, em uma sepultura que é procurada por meus executores. E vai vestido com hábito de nosso pai São Francisco, que deve me dar a Irmandade de São Lourenço, de quem eu sou irmão. E o padre e a cruz da minha paróquia assistirão ao meu funeral. E no seu dia, se for agora, se não no próximo, me será contada uma missa com meu corpo presente para o dito sacerdote. E seis sírios acenderão a santa cruz e oito capelães a acompanham do coro da Santa Igreja Catedral desta cidade, que deve me dar a Irmandade da Santa Cruz, de quem, da mesma forma, eu sou irmão. E, portanto, as esmolas que são habituais são dadas. Eu comparecer ao enterro disse a comunidade de religiosos de São Francisco, descalços, fora desta cidade [Convento de São Gabriel], que devo dar a referida Irmandade de São Lourenço. E eu também sou o irmão da Irmandade de São José, peço e solicitar os administradores das referidas três irmandades de São Lourenço, Santa Cruz e Senhor São José, faça de mim o que acostumados com os outros irmãos mortos. Eu envio para a cera do Santíssimo Sacramento um real de esmola e para as ermidas costumeiras desta cidade, a Santa Casa de Jerusalém e a redenção de cativos a esmola que é costume. Ordeno cem missas rezadas para serem ditas por minha alma, mais outras cinquenta, metade por penitências mal cumpridas e metade por objeções conscienciosas. E outras vinte e cinco missas para as benditas almas do Purgatório, todas rezadas. E para eles as esmolas personalizadas são dadas. E removido de toda a terceira parte que toca a colecturia, os outros são ditos pelos sacerdotes que meus executores ver, o mais rapidamente possível. Deixo a Agustina Alfonsa, minha afilhada, esposa de Juan Gutiérrez, seis pesos escudos de prata, pelo grande amor que eu tenho e porque me confia a Deus. Ordeno a Juan Lorenzo, meu aprendiz, que tenho na minha casa há tres anos ensinando meu ofício de escultor, todas as ferramentas e bancos que pertencem a referido ofício de escultor que eu tenho, pelo muito amor que eu tenho e porque me confia a Deus. Quais [ferramentas] não serão entregues até que seja oficial, porque não as desperdiça e não jogue por aí. O que será recolhido pelos meus executores e estará em sua posse até que você tenha idade suficiente para poder entregá-las e ser oficial. E eles não serão entregues a seu pai ou a qualquer outra pessoa. Declaro sou casado, a fim de nossa Santa Madre Igreja, com Beatriz dos Anjos, que hoje mora no Reino de Portugal, na vila de Campo Maior, com quem não tenho vida maridável faz trinta anos. E desse casamento não temos filhos. E assim eu o declaro para que em todos os momentos isso seja registrado. Não me lembro de nenhum dever. E algumas pessoas me devem algumas pequenas quantias que meus executores sabem; ordeno são cobrados. E se com a verdade parece que eu devo alguma coisa, eu ordeno que seja paga. E para atender e pagar este a minho testamento, e que contém, sair e chamado pelos meus executores testamentários a Francisco Santiago e María Domínguez, minha comadre, viúva, moradores desta cidade, cada um em si, in solidum, a os quales dou poder cumprido para que depois de minha morte leve minha propriedade e vendê-los em leilão. E eles cumprem e pagam a minho testamento e o que nela está contido. E cumprido e pago, do remanescente e que permanecerá de todos os meus bens, direitos e ações que me tocam e pertencem de qualquer forma, deixo e nomeio pelo meu herdeira universal a María Domínguez, minha comadre, para que todos possam ser e herdar com as bênçãos de Deus e as minhas, atento não tenho herdeiro. E para isto meu testamento, que eu faço agora e concedo, revogo e anulo e dou para nenhum valor ou efeito qualquer outro testamento, você envia ou codicilos que antes disto eu tenho datado, por escrito e em uma palavra, que nenhum eu quero valer, exceto este que eu faço atualmente e concedo, que eu só quero ser válido para o meu testamento e última vontade, assim e da forma que melhor por direito, lugar em testemunho do qual, eu concedi e assinei perante o presente notário público e testemunha que do meu conhecimento dá fé. E estando nas casas da minha morada, na cidade de Badajoz, a nove dias de março de mil e setecentos e catorze anos, testemunhas Francisco Javier de Morales Morgado, José Rafael e Francisco Ribero, vizinhos desta cidade.
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